Entre livrinhos, cadernos, panfletos e brochuras de culinária, encontrei em casa da minha avó este estudo levado a cabo por uma engenheira agrónoma da Junta Nacional das Frutas, publicado em 1942 e dedicado ao "aproveitamento da fruta em conservas, compotas e outros doces". O livro é muito rigoroso e interessante e, para além das páginas que digitalizei, aproveito para partilhar convosco uma parte da introdução:
Os mercados nacionais encontram-se em determinadas épocas do ano invadidos por grande quantidade de fruta que, dum modo geral, se vende a preços muito elevados.
Por outro lado, em pontos distantes dos grandes centros (...), a fruta tem cotações baixíssimas, sendo mesmo em grande parte dado ao gado (...); é que o produtor não sabe que fazer-lhe tanto mais que para êle existe apenas um único tipo de fruta e, assim, a má não permite que a boa chegue a preços acessíveis aos mercados.
(...) Se, porém, conseguirmos dar vazão à grande quantidade de fruta de refugo colhida em todo o País, que, de momento, não tem aplicação económica ou vai competir com a de primeira qualidade, poder-se-ia vender a fruta escolhida a preços mais acessíveis, dada a valorização que a de refugo sofreria.
Podíamos fomentar a indústria caseira de doces e conservas de frutas, transformando êsse refugo em compotas, geleias, sumos, etc., com mais ou menos açúcar, mas sempre constituindo produtos agradáveis, com tanta aplicação e interêsse económico.
(...) A dona de casa que vive fora de Lisboa também dispõe durante parte do ano de quantidades apreciáveis de fruta cuja aplicação racional lhe causa, por vezes, sérios embaraços.
Aqui em Inglaterra apanham-se à venda de vez em quando uns caixotes de fruta "for jam" — em Portugal não me lembro de ter visto isto em nenhuma frutaria. Sabem de algum sítio que faça isto? É que, independentemente do gozo que dê fazer conservas em casa, não faz muito sentido usar fruta de supermercado. Quem vive nas grandes cidades como faz para arranjar fruta "de segunda"?
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Amongst loads of cookery leaflets and brochures, I came across this study on preserving fruit at my grandmother's house. It was issued by the Portuguese government in 1942 and it exhortes the virtues of making use of "second choice" fruit (i.e. fruit that isn't considered perfect for commercial purposes) in preserves. It's a rigorous and interesting study and I'm glad I've found it!
Abriu recentemente uma frutaria outlet muito perto da minha casa, próximo do Areeiro. Fica logo depois do cruzamento da Avenida de Paris com a Almirante Reis.
ReplyDeleteQue reliquia de livro!
ReplyDeleteQue achado maravilhoso! Na cidade onde vivo é fácil encontrar fruta "de segunda" nos mercados ou nas frutarias de bairro. Ou então, na beira da estrada, nos arredores da cidade.
ReplyDeleteNa zona de Mafra há vários armazéns de fruta e é costume encontrar-se. O livro é uma verdadeira relíquia!
ReplyDeleteNas praças (mercados) é possível encontrar este género de fruta, que muitas vezes é considerada de segunda só porque não é calibrada. Em Benfica costumo encontrar, por exemplo, pêros bravo de esmofo, qualidade que normalmente não se vê nos grandes centros. E também tenho a sorte de ainda encontrar boa fruta nas mercearias de bairro.
ReplyDeleteMaria DP
Que bom ter-se um achado destes, de vez enquando. Tb gosto de fazer estas coisas gulosas, mas tento sempre encontrar fruta de 2ª e se possível de produção caseira, para evitar que tenham os pesticidas habituais. Confesso que não é fácil!
ReplyDeleteNada como o mercado das Caldas da Rainha para isso.
ReplyDeleteLá o produtores locais ainda levam para a praça aquilo que colhem das suas pequenas produções e por se tratarem de pequenos agricultores, a sua fruta não tem o calibre para venda em grandes superfícies, mas tem todo o saber para fazer doces e compotas.
ainda hoje fui ao mercado comprar morangos a um bom preço para fazer compota...
ReplyDeletepor cascais é praticamente impossivel encontrar fruta não calibrada. por vezes encontro esse tipo de fruta no ac frutas de são joão do estoril.
acheiincrivel a actualidade do texto de 1942! podia ter sido escrito agora.
Olá Constança,
ReplyDeleteComo eu adoro estes saberes, estas definições, estas reliquias !!! Obrigada por se lembrar de partilhar estas preciosas páginas.Tenho um pequeno livro/caderno manuscrito em caligrafia num português arcaico, oferecido por uma amiga que o herdou, que conservo religiosamente pois é um verdadeiro tesouro. Vou por graça digitalizar umas páginas e mandar-lhe por mail para ver se não me dá razão.
Quanto à fruta de 2ª para nós citadidos e refiro-me a Lisboa, para além das hipóteses já citadas das frutarias de bairro, praças, vendedores de fim-de-semana que se encontram nas estradas nos arredores, alguns ainda podem contar com a generosidade de amigos que ainda têm familiares no campo e em certas alturas têm as tais frutas excedentárias tão saborosas e não normalizadas.Confesso que tenho uma certa inveja do porco que a minha vizinha cria numa aldeia em Castelo Branco, porque ele só come dessas frutinhas de 2ª ;) .
Beijinho cheio de sol de Portugal
Ana Lopes
Esse livrinho é uma preciosidade, ainda bem que o guardaram! Em resposta à tua questão, em Portugal, que eu saiba, só nos mercados é que se consegue encontrar fruta assim. Vem directamente dos produtores e normalmente não cumpre os requisitos (tamanho, etc) para ser vendida em supermercados.
ReplyDeleteSim nos mercados, ou nas feiras encontra-se sempre fruta do produtor, onde se consegue quase sempre regatear preço. Aqui por casa, as compotas, geleias, marmelada e doces fazem-se sempre com a fruta da casa, que na sua devida época é sempre abundante.
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ReplyDeleteA minha avó tem um pequeno pomar com várias espécies de árvores de frutos, e organizado de forma a garantir que existe fruta todo o ano, e tudo biológico :)
ReplyDeleteQuando estava em Lisboa conseguia ir fazendo compotas com a fruta que trazia de lá... nespera, orange marmalade, tomate, marmelada... em Inglaterra nesta altura do ano há sempre a possibilidade de visitar quintas para colher morangos, framboesas e outas bagas. É sempre uma boa ideia!
Há um sítio muito perto de Lisboa onde consigo isso: em Almeirim. Este ano comprei morangos lindos e ofereceram-me 2kg de outros de calibre pequeno para doce. Ficou uma delicia.
ReplyDeleteOlá Constança, o mais curioso é pensar que este tipo de publicações existiram num tempo em que era normal aproveitar-se tudo porque eram tempos de dificuldades económicas, e que agora se revelam uteis pelo mesmo motivo.
ReplyDeleteBjs
Concha me ajuda!!
ReplyDeleteSemana passada fiz doce daquelas "laranjas" ENORMES acho que se chamam cidras.
Deixei de molho com trocas de água por uns 5 dias, levei no fogo com açúcar e água, ficaram lindas, porem AMARGAS joguei tudo fora ou seja deitei tudo fora... que dó...
Você tem alguma dica pra não amargar?
Não conheço nenhuma frutaria que o faça mas é um ideias excelente.
ReplyDeleteMuito obrigada
Beijinhos
Marta
Ola Concha
ReplyDeleteAdorei as reliquias. Em relacao as frutas para compotas e doces, penso que podes encontrar algumas em Inglaterra nas quintas que possuem o "Pick yourself", onde podes tu propria podes colher morangos, framboesas, e muitos vegetais.
Bjs
Ligia
Olá
ReplyDeleteEu moro em Caneças e nesta zona e arredores há muitas frutarias que vendem fruta mais barata. Inclusive na altura do tomate maduro compro muitas vezes para compota e para congelar, evitando assim comprar as latas de tomate pelado no Inverno.
Curiosamente, o morango mais barato que comprei este ano foi no Pingo Doce (lol) onde consegui comprar a 2,60 (salvo erro) uma caixa com 2 quilos...
Eu consigo muita fruta dos meus avós e pais, porque eles são da "aldeia" :)
ReplyDeleteMas por aqui (zona de Leiria, Tomar, Santarém) consegue-se encontrar agricultores a vender à beira da estrada, principalmente no Verão. Como as outras meninas dizem nos mercados e principalmente em Almeirim há os agricultores a escoar a produção nas bermas da estrada, a caminho de Coimbra via IC3 também há, na zona Leiria/Pombal e ao pé da Exposalão (Batalha) do outro lado da estrada ao pé do Centro Comercial Rino & Rino havia uma casinha em madeira com fruta do produtor (não sei se ainda há), boa fruta e bons preços! Outra coisa que reparei é que nos Hipermercados há uns saquinhos de maças ou pêras, muito possivelmente de 2ª, porque os aspecto, preço e tamanho nada tem a ver com as que se vendem à unidade/kg. :)